quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Quem manipula?



Manipula aquele que quer vencer-nos sem convencer-nos, seduzir-nos para que aceitemos o que nos oferece sem dar-nos razões. O manipulador não fala à nossa inteligência, não respeita nossa liberdade; atua astutamente sobre nossos centros de decisão a fim de arrastar-nos a tomar as decisões que favorecem seus propósitos.

Em um comercial de televisão apresentou-se um carro luxuoso. Em seguida, no lado oposto da tela, apareceu a figura de uma belíssima jovem. Não disse uma só palavra, não fez o menor gesto; simplesmente mostrou sua encantadora imagem. Imediatamente o carro começou a andar por paisagens exóticas, e uma voz nos sussurrou amavelmente ao ouvido: "Deixe rolar  todo tipo de sensações!". Nesse anúncio não se dá razão alguma para se escolher esse carro em vez de outro. Sua imagem articula-se com realidades atrativas para milhões de pessoas e envolve todas no halo de uma frase impregnada de aderências sentimentais. Desse modo, o carro fica aureolado de prestígio. Quando você for à concessionária, você se sentirá inclinado a escolher este carro. E o carro você leva, mas não a mulher. Na verdade, ninguém tinha prometido que, se você comprasse o carro, teria a possibilidade de acesso à mulher, o que teria sido um modo de dirigir-se à sua inteligência. Limitaram-se a influir sobre sua vontade de forma tortuosa, astuta. Não lhe enganaram; lhe manipularam, que é uma forma sutil de engano. Estimularam teu apetite com sensações gratificantes a fim de orientar tua vontade para a compra deste produto, não para satisfazer ou ajudar a desenvolver tua personalidade.Você foi  reduzido a mero cliente. Essa forma de reducionismo é a quintessência da manipulação.  

Este tipo de manipulação comercial costuma acompanhar outra muito mais perigosa ainda: a manipulação ideológica, que impõe idéias e atitudes de forma oculta, graças à força de arrasto de certos recursos estratégicos. Assim, a propaganda comercial difunde, muitas vezes, a atitude consumista e a faz valer sob o pretexto de que o uso de tais e quais artefatos é sinal de alta posição social e de progresso. Um anúncio de um carro luxuoso dizia: "O carro dos vencedores. Você que é um vencedor deve usar este carro, que vence na estrada. Carro tal: o vitorioso!"

Quando se quer impor atitudes e idéias referentes a questões básicas da existência - a política, a economia, a ética, a religião...-, a manipulação ideológica torna-se extremamente perigosa. Atualmente, muitas vezes se entende por "ideologia" um sistema de idéias esclerosadas, rígido, que não suscita adesões por carecer de vigência e, portanto, de força persuasiva. Se um grupo social assume radicalmente este sistema como programa de ação e quer impô-lo, só dispõe de dois recursos: 1. A violência, que se encaminha para a tirania, 2. A astúcia e recorre à manipulação. As formas de manipulação praticadas por razões "ideológicas" costumam mostrar um notável refinamento, já que são programadas por profissionais de estratégia [2] .

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